Qualidade do ar no metrô de Paris é dez vezes pior do que no trânsito

A poluição dentro dos trens e estações do metrô de Paris está preocupando cada vez mais. Segundo números recentes, a concentração de partículas finas nos túneis do sistema de transportes já seria dez vezes superior ao registrado do lado de fora. A qualidade do ar estaria bem aquém das preconizações legais.

 

O sábado passado (16) marcou a Jornada do Transporte Público na França. Para celebrar a data e incentivar a população a deixar seus carros em casa, os organizadores lançaram o slogan “Escolher o transporte público é preservar o ar que você respira”. Porém, a operação foi ofuscada por uma polêmica: a divulgação do resultado das análises da qualidade do ar dentro das estações de metrôs e trens de periferia de Paris.

 

O alerta foi dado pela Federação dos Transportes, que distribuiu panfletos sobre o tema nos corredores do metrô já na sexta-feira (15). Segundo os sindicatos, a concentração de partículas finas chegaria a atingir índices dez vezes superiores aos registrados nas ruas da cidade.

 

A afirmação se baseia em estudos comparativos feitos a partir da análise da qualidade do ar em diferentes estações de metrô. Em alguns momentos do dia, andar pelos corredores do transporte ferroviário parisiense representa uma exposição à poluição muito maior que em vias externas movimentadas, como a avenida Champs-Elysées ou ainda o Périphérique, uma marginal que circunda a cidade e é conhecida pela densidade de seu tráfego, principalmente nos horários de pico.

 

O principal motivo da concentração de partículas seria a fricção entre as rodas e os trilhos dos trens, além dos freios e as instalações elétricas. Apesar dos esforços em termos de ventilação feitos para RATP, empresa responsável pelo sistema de metrô de Paris, na estação Châtelet, no centro da capital, por exemplo, a concentração em PM10 ultrapassaria em alguns momentos os 300 µg/m3. Na rua, o limite tolerado pela legislação francesa é de 80 µg/m3. Porém, essa regulamentação não é válida dentro do metrô.

 

Em entrevista à imprensa local, Fabian Tosolini, representante da Federação dos Transportes, chamou a atenção para os riscos corridos pelos passageiros, mas principalmente pelos 26 mil funcionários do sistema ferroviário na região de Paris. Segundo ele, “passar um dia inteiro nos túneis é como trabalhar em uma mina de carvão”.

 

A empresa que administra o metrô parisiense se defende. Mesmo se ela afirma fazer o necessário para melhorar a qualidade do ar, a RATP lembra que esse fenômeno de poluição interna é constatado em todas as redes ferroviárias do mundo.